A intenção deste artigo é justamente tranquilizar os ex-bolsistas e explicar, de forma clara, o que está em jogo: há, sim, casos em que se verifica a possibilidade de responsabilização penal, mas trata-se de uma hipótese menos provável, sobretudo quando se age com planejamento, ética e cuidado.
Nos últimos anos, temos atuado na defesa de ex-bolsistas que receberam notificações e cobranças relacionadas ao descumprimento de obrigações assumidas durante a vigência da bolsa — como a prestação de contas ou o retorno ao país após o término dos estudos.
Embora saibamos que lidar com a administração pública brasileira pode ser difícil e gerar ansiedade — especialmente diante de cobranças elevadas, a experiência do BFA demonstra que a melhor forma de enfrentar essas situações é com tranquilidade e planejamento.
É verdade que surgiram recentemente casos isolados de tentativa de responsabilização criminal de ex-bolsistas, mas tratá-los como regra geral seria equivocado. A realidade mostra que, na ampla maioria das situações, o diálogo com a administração pública e a atuação jurídica estratégica são suficientes para resolver o problema.
Entendendo o fenômeno
Os programas de fomento à pesquisa no Brasil envolvem recursos públicos e, por isso, são acompanhados de regras e compromissos formais, como o envio de relatórios, a prestação de contas e, em alguns casos, o chamado “interstício”, período em que o bolsista deve permanecer no país após o término da bolsa.
Quando essas obrigações não são cumpridas ou quando há falhas de comunicação com a agência de fomento, podem surgir três tipos de questionamentos:
- Administrativos: cobranças formais ou tomadas de contas especiais, quando a agência solicita justificativas ou devolução de valores;
- Cíveis: pedidos de ressarcimento em caso de descumprimento contratual;
- Penais: hipóteses mais raras, já que dependem da existência de indícios de dolo ou de conduta potencialmente criminosa, como falsificação documental, desvio intencional de valores ou declaração falsa.
É importante compreender que a simples instauração de um procedimento não significa acusação criminal. Geralmente, a situação é resolvida administrativamente, com apresentação de documentos e defesa técnica.
Quais são os riscos mais comuns para ex-bolsistas
- Cobrança de valores
A hipótese mais recorrente é a devolução de valores de bolsas por suposto descumprimento de cláusulas contratuais. Muitas vezes, essas cobranças podem ser revertidas mediante justificativas bem fundamentadas.
- Inscrição em dívida ativa
Quando não há resposta à notificação administrativa, o valor pode ser inscrito em dívida ativa. A atuação rápida e organizada evita que o caso chegue a esse ponto.
- Questionamentos sobre má-fé ou dano ao erário
Situações em que há suspeita de má-fé são raras e exigem análise individualizada. A comprovação de boa-fé e a entrega de documentação adequada costumam encerrar o problema.
- Repercussões acadêmicas e financeiras
A inscrição no CADIN (Cadastro Informativo de Créditos não Quitados) ou na Dívida Ativa da União pode restringir o acesso a novos financiamentos públicos, bolsas ou programas de fomento à pesquisa no Brasil. Em alguns casos, também pode afetar a obtenção de certidões negativas ou a participação em editais.
- Responsabilização penal
A responsabilização criminal é possível apenas quando há indícios de dolo — ou seja, quando se demonstra intenção de cometer fraude, apropriação indevida ou falsificação. Casos de mero descumprimento contratual, atrasos ou falhas de comunicação não configuram crime e devem ser tratados na esfera administrativa.
E se eu for intimado para responder a um procedimento penal?
Receber uma intimação para prestar esclarecimentos em um inquérito policial ou procedimento do Ministério Público não significa que você é acusado de um crime. Nessa fase inicial, a autoridade busca compreender os fatos e avaliar se há elementos mínimos para prosseguir com a investigação.
O primeiro passo é manter a calma e procurar assessoria jurídica imediatamente. Um advogado poderá:
- Analisar o conteúdo da intimação e o órgão responsável;
- Solicitar acesso aos autos para compreender o motivo da investigação;
- Preparar sua manifestação de forma técnica e estratégica, evitando autoincriminação;
- Acompanhar o depoimento e garantir o respeito às garantias legais.
Até hoje, o BFA nunca teve clientes intimados para responder a procedimentos penais relacionados a bolsas de fomento. Essa experiência reforça que, quando há transparência, documentação e atuação de boa-fé, a esfera penal tende sequer a se tornar uma possibilidade concreta.
Ainda assim, é importante reconhecer que a atuação dos órgãos de persecução penal pode variar ao longo do tempo, e não há como prever se haverá um aumento na abertura de investigações voltadas a bolsistas. De fato, têm sido noticiados alguns casos dessa natureza, que são sérios e merecem acompanhamento atento. Por isso, a prevenção e o acompanhamento jurídico continuam sendo essenciais para evitar que discussões administrativas sejam interpretadas de forma equivocada.
Cuidados práticos que todo ex-bolsista deve adotar
✅ Guarde toda a documentação
✅ Comunique-se com a agência de fomento
✅ Responda às notificações no prazo
✅ Busque orientação jurídica desde o início
No BFA, atuamos com seriedade e equilíbrio em casos que envolvem bolsas de fomento, mobilidade internacional e retorno ao Brasil.
Nosso trabalho combina análise jurídica com compreensão prática da vida acadêmica e migratória dos nossos clientes. Entre as nossas frentes de atuação estão:
- Estudo detalhado do histórico de bolsa e dos termos de compromisso;
- Elaboração de respostas administrativas e defesas técnicas;
- Orientação sobre regularização junto à Capes, ao CNPq e aos Tribunais de Contas;
- Consultoria migratória para quem vive ou pretende voltar do exterior.
Nosso objetivo é oferecer segurança e clareza, permitindo que cada ex-bolsista entenda sua situação real e saiba exatamente quais caminhos seguir — sem alarmismo e com respaldo jurídico sólido.
A responsabilização penal de ex-bolsistas é uma possibilidade jurídica excepcional, e não uma regra. Cada caso deve ser analisado à luz de suas circunstâncias concretas, com atenção à boa-fé, à comunicação e à documentação apresentada.
Tratar o tema com equilíbrio é essencial: reconhecer a gravidade potencial de um processo administrativo sem transformar isso em medo desnecessário.
O BFA Direito Migratório está à disposição para orientar ex-bolsistas e pesquisadores brasileiros no enfrentamento dessas questões, oferecendo tranquilidade, técnica e estratégia jurídica para cada etapa do processo.





